segunda-feira, 27 de julho de 2009

MARROMEU











Esta semana fizemos a tão esperada viagem para Marromeu. Um distrito de Sofala, onde foi realizada a conferência da Igreja Batista Renovada de Moçambique. Foi uma experiência única e sem dúvidas inesquecível para todos nós. Por isso vou escrever detalhadamente sobre cada dia, para que vocês blogueiros possam sentir um pouquinho dessa grande aventura.


Começamos a viagem no dia 22, em uma quarta-feira. Estávamos preparados para sair as cinco da manhã, mas de forma inexplicável, a gasolina de toda a cidade se esgotou, e por isso tivemos que buscar em uma cidade vizinha o que acabou atrasando um pouco nossa saída. Mas isso não foi o mais difícil, pois o mais complicado foi colocar mais de vinte pessoas e muita bagagem em um chapa (van) com capacidade para quinze pessoas apenas. Fomos apertando, apertando, e quando eu pensava que não caberia mais ninguém, eles ainda davam um jeitinho de entrar mais um. Foi engraçado, mas nada confortável...kkk
A viagem foi longa, com poucas paradas para pelo menos nos esticarmos às vezes. Pelo caminho, não havia restaurantes, lanchonetes, nada disso que os brasileiros estão acostumados na estrada, mas havia apenas vendedores ambulantes, que vendiam bananas, ovos cozidos, pães, e refrigerante. Sem falar na casa de banho (banheiro), que era apenas um cercadinho de palha e as necessidades eram feitas na própria terra.
Mas a viagem começou a se estender e quando percebemos já era noite. Éramos em três carros, mas justamente no momento que entramos em uma estrada de areia, nos perdemos de um deles. Continuamos pela estrada com a esperança de estarmos no caminho certo, mas como o carro estava muito pesado por estar suportando mais de vinte pessoas e todas as malas, acabamos atolando na areia, e nos perdemos do outro carro também que seguiu a viagem sem perceber que estávamos atolados.
Depois de termos todos descido do carro, afim de aliviar o peso, fiquei sabendo que aquela era uma região próxima de uma reserva e portanto com muitos leões. Ahhh, aquilo me aliviou muito, sabe. Saber que estava com o carro atolado, no meio do mato, sem nenhuma luz por perto e sabendo que pessoas já tinham sido atacadas por leões naquele trecho....muito aliviante..kkkk...
Mas nada nos aconteceu!!!! Graças a Deus conseguimos voltar para a estrada asfaltada e continuar a viagem por outro caminho. Depois de quase quinze horas de viagem chegamos a Marromeu uma pequena cidadezinha.
E o que mais me chamou a atenção nisso tudo foi a gratidão do povo moçambicano, pois em todo momento, mesmo apertados, com fome, frio, eles só cantavam e brincavam com a situação, mas nunca reclamavam de nada.
Chegamos bem tarde, e logo fomos encaminhados para a casa que iríamos ficar hospedados. Ficamos em uma pequena casa de pedra e cimento, mas muito confortável, tirando o frio que estávamos sentindo aqueles dias. Tivemos que nos habituar com a falta de energia elétrica, e as casas de banho (banheiros) de palha. Até tomar banho era diferente, pois era o famoso “banho de canequinha” atrás da casa.
Nos dias seguintes tivemos cultos muito alegres que duravam cerca de quatro ou cinco horas, com grupos corais, danças, pregação e momentos de oração.Tenho certeza que se fossem cultos para brasileiros estariam todos incomodados com a demora e com o frio...mas o povo moçambicano curtia cada momento e só saíam de seus lugares para dançar.
Fiquei surpresa ao saber que a maioria dos pastores das igrejas desta região foram discípulos diretos da Valnice Milhomens, a primeira missionária que esteve trabalhando em Moçambique e inclusive foi a única missionária a permanecer no país nos tempos da guerra, há anos atrás.
Aqui as comidas eram bem típicas. No mata bicho (café da manhã) comemos pães com maçamba (verduras) e mandioca com manteiga e chá. No almoço e jantar comíamos arroz, carne de cabrito, xima (creme feito com farinha de milho), feijão com coco, creme de couve com amendoim e outras coisas.
Em um dos dias tivemos a oportunidade de conhecer a Vila de Marromeu, que há anos atrás foi muito próspera pela produção de açúcar iniciada pelos portugueses. Até hoje encontramos também vestígios da guerra que ocorreu lá pelos tanques de guerra e aviões abandonados.
Outra coisa é o famoso Rio Zambeze, que passa por lá. Em um dos dias acordamos bem cedo para conhecer o dia a dia das mulheres que moram nesta região e todos os dias pela manhã vão ao rio para se banhar, lavar roupas e panelas. Fomos para ajudar a lavar as panelas, mas não resistimos e acabamos tomando banho ali mesmo, para evitar o banho de canequinha. Mas nem imaginávamos que aquele rio é famoso pelos muitos crocodilos, e que inclusive há alguns meses atrás a esposa de um pastor e seu filhinho haviam sido mortos por um destes crocodilos. Que perigo...kkk
No último dia da conferência eu levei uma palavra aos jovens, sobre “Jovens com iniciativa e criatividade”. Foi uma experiência ótima, fiz algumas dinâmicas e conversamos sobre Davi, um jovem que ao ansiar ser Rei teve iniciativa e atitudes ousadas, que o levaram a chegar ao trono.
Mas os dias passaram muito rápido, e logo chegamos no domingo. Para conhecer um outro lado da viagem resolvi voltar de comboio (trem). Para pegar um bom lugar tivemos que chegar as cinco da manhã, e mesmo assim eu quase fui esmagada pela multidão que tentava entrar ao mesmo tempo. O comboio só foi começar a andar depois de cinco horas parados, esperando. Já começamos bem né...kkk
Mas enfim, depois de começar a viagem foi só palhaçada. Era galo cantando, gente trocando fralda de bebê do meu lado, criança brigando, e tudo mais que vocês possam imaginar.

Adorei cada momento desta viagem, e amei conhecer pessoas tão especiais!!!

Beijo pra todos e até a próxima...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

...E os anjos o serviram...




Tenho procurado algo para escrever esses dias, e por mais que estejam acontecendo tantas coisas aqui, me via sem inspiração. E a única coisa que vinha em minha mente era uma palavra que recebi de Deus alguns meses antes de vir pra Moçambique.

“Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto... e, eis que chegaram os anjos, e o serviam.” MT 4.1-11

É incrível pensar que após quarenta dias no deserto, depois de passar fome, sede, frio e tudo mais, os anjos o serviram. Essa é uma parte da história que eu nunca havia parado pra analisar, e sem dúvidas a parte mais lida!!
E conforme os meses foram se passando, comecei a entender melhor ainda o que Deus queria me mostrar. Desde que algumas situações começaram a surgir em minha caminhada passei a entender o que é estar no deserto. Não é fácil, mas com certeza é necessário.
No início do mês uma das meninas da minha equipe ficou muito doente. Infelizmente teve que voltar para o Brasil, acompanhada de outra, já que não poderia ir sozinha.
De cinco passamos para três, e eu nem preciso dizer o quanto isso foi difícil pra nós, né.

Fora isso, outras coisinhas como a saudade da família começaram a me atingir, e quando eu pensei que não agüentaria mais....vieram os anjos!!!!
Fiquei encantada, pois no dia que estava mais triste recebi uma visita muito especial em casa. Alguns jovens daqui que estão nos dando muito apoio. E em uma simples visita, com muitas risadas, bolo e refrigerante, percebi claramente que os anjos me serviam.

É maravilhoso viver por Ele!!!

Ahhh, não posso deixar de contar sobre a visita do hospital. As aulas de capelania terminaram e assim pudemos iniciar as visitas. Foi muito bom!!!
Nos dividimos em duas equipes para visitar todos os quartos. No quarto que eu fui, haviam cerca de doze crianças e por isso acabei ficando apenas neste, pra poder dar atenção a todos. Oramos, brincamos, cantamos, e ouvimos muitos desabafos. Foi ótimo poder fazer parte da história de pessoas que precisam tanto.
Havia uma senhora que estava com o netinho, já que ele não tinha pai e nem mãe. Enquanto conversávamos, ela pediu meu número, e ontem já me ligou dizendo que estão em casa e querem uma visita lá. Vai ser ótimo poder acompanhá-los mais de perto.



Por enquanto é só...
Saudade de todos!! Amo vocês!!!

sábado, 4 de julho de 2009

ÁFRICA ???




Por essa eu não esperava: sentir frio na África!!! Nesta fase do ano, o clima seco e quente dá lugar a um clima frio e úmido que vai até agosto. Pois é, acredite se quiser, aqui faz frio.
Antes de vir pra cá, eu pensava que encontraria um calor de mais de 40 graus, como me diziam, mas vejo que não é bem assim, e com isso estive refletindo um pouco sobre a visão que temos da África. E obedecendo ao pedido de muitos daqui, quero passar a imagem verdadeira de Moçambique.
Quando pensamos em África, pensamos em animais selvagens, pessoas passando fome, muito calor e pobreza, pois é assim que a mídia nos mostra. Mas quando pisamos neste continente percebemos que isso não é verdade.

Sei que o que as pessoas gostam de ouvir é que estou vendo tudo isso, mas não posso ser mais uma pessoa que vai passar adiante essa visão distorcida daqui.
Tenho conversado muito com os jovens de Beira a respeito disso, e eles diziam o quanto ficam tristes com a atitude das pessoas que vendem uma imagem falsa da África.

Segundo eles, muitas pessoas quando vem para Moçambique trazem bolsas cheias de comida, para distribuir para o povo. Como se aqui não houvesse comida. Isso sem falar na quantidade de pessoas que nos perguntam se aqui temos que comer cabeça de macaco, ou se temos coisas comuns como telefone, Internet, e banheiro.

Bom, o motivo pelo qual estou escrevendo sobre isso, é para que tomemos cuidado ao ler uma revista ou assistir televisão, para que não aceitemos qualquer informação sobre este povo sem constatar a veracidade de tudo isso.
Moçambique é sim um país sofrido, pois faz apenas 17 anos que saiu de um período de guerra, mas é também um dos países pós-guerra que se recuperou mais rápido.
Não seja mais um a destruir a imagem desse continente...Ore para que seja ainda mais próspero e abençoado!!