domingo, 26 de abril de 2009

A primeira etapa concluída


“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”. II Tm 4:7


Esse versículo descreve muito bem o período pelo qual estou passando esses dias. Estou deixando Maputo, deixando o Centro Arco Íris pra continuar o trabalho em Beira, como havíamos decidido no Brasil. Fiquei muito triste por ter que me despedir de pessoas tão especiais e que me marcaram tanto. Mas também fico muito feliz, pois como Paulo disse no versículo acima, eu também pude completar o meu tempo aqui com excelência e tenho certeza que o Senhor se agradou deste trabalho.
Nestas últimas semanas finalizei o trabalho de decoração da escolinha com cartazes coloridos nas salas de aula, e como eu já havia falado, devido ao período de férias da escolinha, eu estava me dedicando às visitas nas casas próximas ao centro.
Em uma dessas visitas, decidimos que iríamos visitar uma de nossas aluninhas, mas no meio do caminho recebemos uma direção de Deus para irmos a uma outra casa. Para minha surpresa, não havia adultos na casa, mas três crianças que cuidavam de um bebê enquanto a mãe havia ido trabalhar. Na casa havia apenas uma esteira no chão de terra, e no canto algumas vasilhas sem nenhum sinal de alimento. A criança que estava deitada na esteira aparentava estar suja de urina já há algum tempo, devido ao forte cheiro que havia na casa, e as demais brincavam no quintal.
Assim que sentamos pra conversar percebi que o bebê possuía problemas mentais, pois enquanto conversávamos, ele virava o olho e batia em sua própria cabeça. Oramos com eles, cantamos algumas músicas e contamos uma história, mas percebemos que o que eles precisavam naquele momento era de alimentos. Por isso compramos algumas coisas e fizemos um lanche entre eles. Quando estávamos saindo, perguntamos o que eles queriam pedir pra Jesus, e a resposta foi: comida. Foi uma cena muito forte pra todas nós!
Fizemos diversas outras visitas, mas queria falar um pouco sobre aquela jovem que contei na semana passada, que visitamos em sua casa. Na última visita ela nos impressionou por estar tão magra e debilitada e mal conseguia falar. Poucos dias depois da visita ela foi internada em um hospital próximo em péssimas condições. Seus três filhos ficaram na casa da visinha e então fomos vê-los. Eles estavam muito abatidos por estar longe da mãe, conversamos um pouco com eles e juntamente oramos pela Gilda, a mãe deles. Alguns dias depois fomos ao hospital para ver como ela estava. Um milagre! Apesar de ainda estar bem magra, ela estava conversando, rindo, já está andando, e fez uma grande festa quando nos viu. Seus parentes disseram que fazia dias que não a viam tão alegre. Foi muito bom estar com ela, e ver o que Deus tem feito, pois tenho certeza que nossas orações estão alcançando aquela vida.
Depois aproveitamos para orar e conhecer outros pacientes. Eu morri de rir quando nos disseram que nós não parecíamos brasileiras, porque nas novelas as brasileiras estão sempre com roupas curtas, mostrando a barriga, e nós estávamos vestidas como moçambicanas, sem mostrar o corpo.
Ah, eu não podia deixar de contar sobre o passeio que fizemos em Nelspruit, uma cidade da África do Sul, há duas horas daqui. Assim que atravessamos a fronteira o cenário mudou. A estrada é sinalizada, limpa, com grandes plantações e a cidade completamente arborizada e organizada, o oposto de Moçambique. Apesar de ter sido apenas um dia, foi um passeio maravilhoso.
No dia seguinte ficamos por horas nos despedindo de todos do centro Arco-Íris. Foi muito triste deixar aquelas crianças que já faziam parte da minha vida. Recebi muitas cartinhas e palavras lindas, mas uma coisa me chamou muito a atenção. Uma menina pediu pra orar por mim, e em sua oração ela agradecia a Deus por ter me conhecido, porque através de minha vida ela havia aprendido a amar, pois viu sinceridade em minha vida. Lindo, né!
Bom, vou ficando por aqui. Estejam orando por mim e pela equipe para que possamos fazer uma boa viagem e por nossa nova etapa em Beira. Que Deus abençoe vocês!!!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A verdadeira páscoa!!


Olá pessoal! Aqui estou novamente. Perdoem-me pela demora, mas atualmente estou morando em um lugar bem distante da cidade, o que acaba me impedindo de escrever mais.
Desta vez estou ainda mais ansiosa pra escrever tudo o que Deus tem feito por aqui em tão pouco tempo.
Bom, pra começar, estamos na semana da Páscoa, e aqui a Páscoa é tão importante quanto o Natal. Com isso a escolinha entrou em férias, e mudamos muita coisa em nosso trabalho, pois tivemos que nos despedir dos nossos aluninhos um pouco mais cedo. Fiquei um pouco triste, pois ainda tinha muito trabalho a ser realizado com eles, mas sei que tivemos um tempo especial, e que muitas sementes foram plantadas em seus corações.
A despedida foi inesquecível! Levamos todos os alunos para o gramado, e tivemos um tempo diferente com eles, aprendendo sobre a vida de Samuel, com muita música, dança e brincadeiras. Aprendi muito com a disposição e simplicidade daquelas crianças. Uma das crianças que me marcou muito foi a Sheilinha, uma criança de apenas sete anos, que perdeu sua mãe para a AIDS, e atualmente mora em uma casa com a avó e a tia, a qual é portadora da mesma doença e devido ao estágio avançado da mesma encontra-se em um estado de extrema magreza e dores. Como se não bastasse todo o quadro de doença familiar, esta criança carrega consigo um caroço ao lado direito do rosto que não pode ser retirado devido a uma anemia profundo que possui. Ao olhar para essa situação fui impactada pela maneira como uma criança de apenas sete anos, tem passado por uma tempestade como essa em sua vida, e mesmo assim tem se mantido firme, e em cada oração sua, sou constrangida com o sentimento de fé que há nela.
Outra coisa que tem me marcado muito são as visitas, que estou podendo fazer agora, já que as aulas foram encerradas. Até este momento eu tinha dificuldade de acreditar que estava na África, pois até então não tinha visto nada parecido com o que é falado sobre este povo no que diz respeito à miséria e fome. Mas esta semana pude presenciar casas feitas de caniço, de apenas um cômodo, chão batido e somente folhas de feijão para comer. A primeira visita que fizemos foi para uma mulher que se encontra há alguns meses doente, sem saber ao certo do que sofre. Deitada em um colchão no chão de terra, não se movia e nem falava, com muito esforço apenas mexia a cabeça quando concordava com o que dizíamos. Não consegui conter as lágrimas, pois ao tocar em seu braço, percebi que se encontrava apenas em pele e osso, e pude ver uma ferida aberta sem nenhum sinal de sangue em seu debilitado corpo.
Já na segunda visita fiquei muito contente com o que o Senhor realizou. Visitamos uma senhora que tem sofrido muito, tanto por ter sido abandonada pelos filhos e esposo, quanto às dores que tomam conta de todo o seu corpo: desde uma perna menor do que a outra, até a coluna fora do lugar. Enquanto orávamos fomos surpreendidos pelo milagre que o Senhor realizou, pois a perna cresceu diante dos nossos olhos e se igualou com a outra. A dona Luiza, que estava andando bem devagar pelas fortes dores, começou a correr pela rua de Terra agradecendo a Deus. E no dia seguinte ela estava dando o seu testemunho na igreja. Foi tremendo!
Como lhes disse, tivemos uma semana cheia devido à programação de Páscoa, com cultos todos os dias às seis da manhã, uma vigília completamente diferente, com apresentações, danças, filme “A paixão de Cristo”, e até as senhorinhas da igreja dançando black music. Sem falar no passeio que fizemos com as criançasFoi em uma quinta feira, saímos daqui em dois ônibus lotados de crianças, e viajamos por duas horas para chegar em uma praia maravilhosa. Creio que foi um passeio inesquecível pra elas, pois nos divertimos muito, e depois comemos pão com peixe e refrigerante de limão.
Enfim, são essas coisas que nos fazem ver o quanto vale a pena renunciar uma vida de vontades próprias para andar debaixo da vontade de Deus.
Estejam orando por mim, pela equipe, pela viagem que teremos que fazer para Beira, pelos recursos que teremos que levantar para a mesma, por nossa vida espiritual e saúde.

beijinhos